segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A onda de "paz" e a varredura nas polícias

         No fim do ano passado, quando foram deflagradas as famosas operações das forças de segurança no bunker do tráfico do Rio, os Complexos do Alemão e da Penha, grande parte da mídia exaltou o trabalho policial - pela maior apreensão de drogas e armas da história do país - e provocou uma onda de paz e esperança na cidade. A polícia, de uma hora para outra, virava incorruptível. No contexto das UPPs, o Rio, aos poucos, vencia a guerra contra o tráfico.
Alemão dominado (por quem?)
          Só que a doce ilusão levou a um choque de realidade. A mesma imprensa se viu na obrigação de abordar a pauta que deveria ser levantada quando da operação: a corrupção policial e o jogo de interesses sujo que existe nas instituições de segurança do Estado. À época, o enfoque na agressão e no roubo dos agentes do Estado a moradores das regiões conflagradas foi ínfimo. Em meio a drogas, armas, munição, motos e outros ''bens'' apreendidos dos traficantes, não houve questionamentos acerca da inexistente apreensão de dinheiro, algo que obviamente existia naquelas comunidades. E o destino das drogas? Realmente foi tudo incinerado? E que fim levaram as armas? Infelizmente, essas perguntas têm respostas que mancharam a megaoperação e que eram esperadas (a não ser para a imprensa). Desencadeada a Operação Guilhotina, uma varredura em maus policiais feita pela Polícia Federal com o apoio da Secretaria de Segurança, o óbvio veio à tona de uma forma avassaladora: diversos policiais militares e civis, que participaram da invasão, saquearam moradores, agrediram-nos, levaram relógios, joias e itens de valor alto das casas de traficantes, revenderam armas e drogas encontradas a bandidos de facção rival, além de manterem acordos para o aviso de incursões policiais - em troca de uma gorda quantia mensal, os bandidos eram avisados com antecedência pela própria polícia. A corrupção também foi descortinada nas altas patentes, como com Carlos Oliveira, antigo braço-direito do Chefe da Polícia Civil, Alan Turnowski, que abasteceu muitas das armas apreendidas no Alemão a milícia que controlava na favela Roquette Pinto, em Ramos. O episódio também expôs a fragilidade das corregedorias, já que a Polícia Federal cumpriu um papel que, em tese, não é dela, mas sim de departamentos internos das polícias militar e civil.


Felizmente, 41 pessoas com mandado de prisão já foram detidas. Mas, antes de qualquer otimismo em relação ao futuro do Rio, deve-se extirpar toda a banda podre da polícia. Só assim poderemos vislumbrar uma cidade com potencial para erradicar a criminalidade. E a imprensa deve bater nessa tecla mais do que nunca.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Até quando?

O início de 2011 marca mais uma tragédia ambiental que se abate no Rio de Janeiro. Desta vez, a mais violenta da história do Brasil. Chuvas torrenciais causaram deslizamentos que tornaram a Região Serrana irreconhecível. O número de mortes passa de 550 e só tende a aumentar, em virtude de haver áreas ainda inacessíveis, tamanho o estrago causado pela força das chuvas e, óbvio, pela leniência do Estado. Décadas de inchaço urbano e ocupação irregular de morros aliadas à inexistência de políticas públicas de habitação e monitoramento de encostas destruíram milhares de famílias. O governo atual joga a culpa para as gestões anteriores, que `deixaram o monstro crescer`. O pior é saber que, a cada tragédia que passa, a história se repete: mobilização de três semanas da imprensa em busca do chocante e comovente, garantia do governo federal de recursos urgentes às áreas atingidas e assistência total às famílias que perderam tudo. A repercussão da mídia tem data de validade: um mês é muito. Entre histórias e mais histórias, deixam de discutir questões essenciais como o engavetamento (ou inexistência) de projetos parados no Congresso Nacional que buscam uma solução a longo prazo para o problema, bem como a falta de comunicação entre o serviço de metereologia - que previra chuvas fortes - e as autoridades. A falta de políticas efetivas de moradia também é grave, visto que ainda existem muitas famílias que perderam tudo em tragédias antecedentes e foram deixadas à própria sorte.
Ou seja, passados alguns meses, tudo volta ao normal: desabrigados desamparados pelo Estado, encostas e morros suscetíveis a quedas por todo lugar sem qualquer monitoramento ou contenção e um Congresso alheio à urgência de uma solução. Até quando?

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ronaldinho Gaúcho

No jornalismo esportivo, o início de temporada do futebol é sempre difícil: pouco conteúdo, em virtude de só haver treinos nos clubes, e muita especulação de possíveis novos reforços. E em meio a uma enxurrada de nomes ventilados na imprensa, muitos sequer sem qualquer negociação, eis que surge o nome de um certo dentuço que tomou conta do noticiário há duas semanas. Trata-se de Ronaldinho Gaúcho, renegado na Europa e sonho de muitos clubes brasileiros. O negócio ganhou ares de novela quando o empresário e irmão de Ronaldo, Assis, fez uma espécie de leilão pelo jogador, conversou com os clubes interessados em pagar a altíssima quantia exigida e deu respostas animadoras para as diretorias que se dispuseram a pagá-la. A novela virou circo quando a imprensa foi convocada para uma entrevista coletiva no luxuoso Copacabana Palace, onde tudo dava a entender que o caso seria esclarecido. Ledo Engano. Apenas foi comunicado o desligamento de Ronaldo do Milan e o prazo de uma semana para o jogador analisar as propostas recebidas. O Grêmio chegou a começar a montagem de uma festa em seu estádio, o Palmeiras comemorava a alcunha de melhor proposta feita, o Flamengo dizia que estava tudo certo com o jogador e a imprensa se via refém de informações desencontradas.
A situação ainda se arrasta. Grêmio e Palmeiras, cansados, desistiram oficialmente. O Flamengo continua negociando. Certo mesmo é que o episódio já manchou a imagem do atleta com os torcedores brasileiros. Ronaldo seria um excelente reforço de marketing para qualquer clube do país e certeza de estádios lotados, vendas de produtos esgotadas, lucro garantido.  Mas, desde que saiu do Barcelona, em 2006, sua assiduidade nas casas noturnas e seu desempenho em vertiginosa queda geram dúvidas a respeito de seu potencial em campo: ele ainda tem bola para arrebentar aqui? Talvez tenha, pela péssima safra doméstica. De qualquer forma, Ronaldo não é maior que os clubes que o desejam. Se tiver um desempenho em campo condizente com o manejo do negócio pelo irmão, e, por que não, por sua própria omissão em definir o imbróglio, ele será um fracasso.

sábado, 20 de novembro de 2010

Legado da UFF

Além das festas, amizades e o aumento da responsabilidade, comuns à vida de qualquer universitário, ex-alunos da UFF se reuniram para contar como os tempos de IACS lhes foram úteis para a entrada no mercado de trabalho e, por que não, para a vida de cada um deles.
Todos foram unânimes em afirmar que a estrutura não era das melhores, mas que a Federal Fluminense fez com que eles aprendessem a se virar, saíssem da zona de conforto e buscassem o conhecimento por si. Prova disso foi a citação de Che Oliveira sobre o ineditismo do jornal (JB) na internet, que foi criado por um aluno da UFF mesmo sem dispor, na universidade, de computadores de última geração.
Júlio Lubianco e Mariana Costa lembraram da época de greves, comum nos primeiros anos do século XXI. Já Collin Vieira e Herica Marmo contaram suas experiências no jornal O Fluminense, que, segundo eles, em tom descontraído, todo aluno de jornalismo da UFF já passou por lá no começo de carreira. 
Por fim, Che Oliveira afirmou que o mercado de trabalho é uma puxação de tapete constante, e fazer amizades é fundamental. Cada vez mais as empresas vêm enxugando as redações, e o jornalista virou multifuncional. Herica discorda de que só haja vagas se houver o famigerado QI (quem indica). Ela provou que, correndo atrás, é possível ter sucesso na carreira sem depender de terceiros. E aconselhou a não desperdiçar oportunidades, por menos atrativas que elas possam parecer.


(foto: http://www.controversasuff.blogspot.com/)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Euforia impensada

Debate sobre recente projeto de segurança pública questiona a idéia de que as UPPs sejam solução para muitos dos problemas sócio-espaciais do Rio


Iniciado em 2008, quando, de forma ostensiva, a comunidade Dona Marta, em Botafogo, foi ocupada pela Polícia, o projeto que, segundo o governo, pretende pacificar o Rio até 2014 expande suas ocupações pela cidade e gera dúvidas a respeito de seus reais fins: seriam as UPPs uma política pública de fato ou, a reboque da Copa do Mundo, em 2014, e das Olimpíadas, em 2016, um projeto de cidade turística?

Para o deputado estadual Marcelo Freixo, trata-se da segunda opção. Ele citou as investidas estratégicas na Zona Sul, na Cidade de Deus e no Centro como prova de um projeto de turismo.

Marcelo Freixo, discursando sobre as UPPs


- Na Zona Sul estão os pontos turísticos, a Cidade de Deus dá acesso à Barra e o Centro é em função da revitalização da Zona Portuária. Se a lógica das UPPs fosse enfrentamento ao crime armado eu creio que elas teriam sido feitas na Maré, na Rocinha e no Alemão.

Freixo, no entanto, ressalta que há pontos positivos nas pacificações, mas que o Estado as vê pela lógica do tráfico, e não pela de políticas públicas essenciais, como, por exemplo, moradia.

- Claro que é importante não ter tiroteio na porta do trabalhador. Mas quem garante que daqui a dez anos os moradores da Babilônia estejam lá ainda? Se não houver uma política pública visando à manutenção dessas pessoas que construíram a comunidade, elas serão expulsas dali. Isso precisa ser debatido.

Edna Lúcia, moradora da comunidade Vila Ipiranga, em Niterói, compartilha a opinião de Freixo sobre a omissão do Estado em serviços básicos e teme uma possível pacificação onde mora, por entender que a disparidade entre o asfalto e o morro é gritante.
Edna, discorrendo em meio aos olhares da bancada
- A gente (da favela) paga luz, paga água só que ela cai uma vez por semana e querem que a gente pague igual a vocês (do asfalto)? A luz vem, desce, e querem que a gente pague igual a vocês? - disparou. A favela está descendo não só para trabalhar na casinha de vocês, não. Nós estamos descendo para vir para o meio de vocês e dizer que nós estamos de olho. Remoção branca,  não - arrematou, ovacionada pelo abarrotado Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFF, local do evento.

Freixo ainda apontou para o que acredita ser a sua maior preocupação sobre as UPPs.

-  O que me preocupa mais é a possibilidade de investimento privado na segurança pública. Isso eu acho temerário, gravíssimo e sou radicalmente contra. Segurança pública é uma questão de Estado. Segurança pública não pode atender a interesses privados, mesmo que supostamente envolvidos por uma intenção cristã de um Eike Batista. Interesses privados não são feitos para defender interesses públicos - concluiu.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

JB: a saída para o on-line e o futuro do jornal impresso


Nostalgia foi a palavra adequada para definir o Seminário "O JB que nós amávamos", que reuniu, na ABI, jornalistas que viveram os áureos tempos do jornal para um debate sobre tudo aquilo que o norteou durante seus três séculos de vida: o nascimento, a reforma, a época dourada, a crise, o fim da versão impressa e o futuro com a internet. Diferentemente das três mesas antecedentes, designadas a dissecar o passado jotabeniano, a mesa 4, composta por Caio Túlio Costa, Ricardo Gandour, Rosental Calmon Alves e Orivaldo Perin tratou de debater e vislumbrar o futuro do jornalismo com o advento digital.

A mesa começou citando a agonia por que passava o JB, clara desde os anos 80 e acentuada com a chegada do século XXI. A decadência financeira do jornal, imerso em dívidas, viu na explosão do fenômeno chamado internet uma interessante saída para a sobrevivência. Para tristeza dos leitores mais antigos, o JB passaria a existir só na versão digital: a impressa teve sua última circulação em 31 de agosto de 2010. O episódio pôs em xeque o futuro do jornalismo impresso e sua capacidade de se reinventar sem perder a qualidade, dada a comprovada queda das vendas com o advento da internet. Rosental Calmon Alves, responsável, há 15 anos, pelo pioneirismo do JB na grande rede, comentou que ela, futuramente, deverá expor e informar sobre os fatos, mas sem maior aprofundamento e análise, funções que o impresso deverá exercer. Rosental ponderou ainda que, diante do surgimento da TV e do Rádio, no século XX, muito se falou a respeito do futuro dos jornais, que não sobreviveriam frente às novas plataformas, o que foi desmentido ao longo do tempo. Orivaldo Perin, ex-JB e atual editor executivo do Globo, atentou para o fato de que o maior gerador de lucro das empresas, embora em queda, ainda seja o jornal impresso, e que os grandes portais de informação no mundo, campeões de acesso, mantêm a versão impressa e dela obtêm maior parte da receita. Em contrapartida, Perin ressaltou que a internet como único meio de informação seria excelente para as corporações, que não mais gastariam com a parte industrial da produção de papel, bem como promoveriam um enxugamento das redações, aumentando exponencialmente o lucro.
De unânime, só que o JB "palpável" já deixou saudade.


(fotos: Thamiris de Paiva Alves) 

sábado, 16 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2

O inimigo agora é outro. A frase que sintetiza o segundo Tropa de Elite é perfeita: o tráfico de drogas, enfraquecido em algumas áreas do Rio de Janeiro, dá lugar a uma nova modalidade de crime organizado, mais complexa, que se fortalece no estado devido ao sucateamento policial e ao interesse de políticos que a respaldam com fins eleitorais. Falo das milícias, grupos paramilitares formados em sua maioria por ex-policiais que extorquem a população das comunidades em troca de uma suposta proteção, além de venderem serviços de gás e redes clandestinas de TV a cabo, e que veem em certos deputados, senadores e até governadores um eficiente suporte para continuar agindo sob a condição de ceder seus inúmeros e poderosos colégios eleitorais capazes de render milhares de votos nas eleições. O Capitão Nascimento cresce na hierarquia da corporação, torna-se chefe do setor de inteligência da polícia e encontra um panorama assustador: até nas altas patentes há corrupção e um jogo sujo de interesses. E vem o questionamento: para que serve o trabalho do BOPE se a raiz dos problemas de segurança pública encontra-se intimamente ligada à conivência de quem deveria justamente impedir tamanha desordem?

Vale a pena assistir.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Eleições 2010

Daqui a exatos 17 dias, mais precisamente em 03 de outubro, ocorrerão as eleições para cinco cargos políticos. Cabe a nós, brasileiros sedentos por mudanca, elegermos um deputado federal e um estadual, dois senadores, um governador e um presidente. Este ano, particularmente, houve uma grata surpresa, de iniciativa popular, que é um alento de mudanca para o futuro - o Ficha Limpa. O projeto, que ainda é alvo de tentativa de anulação e distorção, resiste bravamente e já anulou a elegibilidade de mais de 200 candidatos notoriamente corruptos.
Em contrapartida, e como de costume nesse período, é constrangedora a banalização dos cargos políticos. Qualquer Zé Ruela da vida pleiteia uma vaga na Câmara, sem saber do que se trata a função, parecendo estar ali para ser mais um a mamar as tetas do governo. Outros se candidatam e usam seu prestígio no mundo dos esportes para angariar votos, sem sequer ter algum vínculo com a política.
Outro absurdo frequente nessa época é o uso de colégios eleitorais poderosos - como as favelas, por exemplo - como moeda de troca por melhorias. Sem falar na poluição visual que se tornam as cidades; no Rio, por exemplo, um candidato que diz ser o autor do Choque de Ordem promove uma verdadeira desordem ao espalhar faixas e bandeiras por todos os lugares. Paradoxal, não?
Balbúrdias à parte, espero que você, eleitor, estude em quem votará, procure saber o passado do candidato, analise as propostas em geral e vote com consciência. Só assim poderemos mudar a realidade!