sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Euforia impensada

Debate sobre recente projeto de segurança pública questiona a idéia de que as UPPs sejam solução para muitos dos problemas sócio-espaciais do Rio


Iniciado em 2008, quando, de forma ostensiva, a comunidade Dona Marta, em Botafogo, foi ocupada pela Polícia, o projeto que, segundo o governo, pretende pacificar o Rio até 2014 expande suas ocupações pela cidade e gera dúvidas a respeito de seus reais fins: seriam as UPPs uma política pública de fato ou, a reboque da Copa do Mundo, em 2014, e das Olimpíadas, em 2016, um projeto de cidade turística?

Para o deputado estadual Marcelo Freixo, trata-se da segunda opção. Ele citou as investidas estratégicas na Zona Sul, na Cidade de Deus e no Centro como prova de um projeto de turismo.

Marcelo Freixo, discursando sobre as UPPs


- Na Zona Sul estão os pontos turísticos, a Cidade de Deus dá acesso à Barra e o Centro é em função da revitalização da Zona Portuária. Se a lógica das UPPs fosse enfrentamento ao crime armado eu creio que elas teriam sido feitas na Maré, na Rocinha e no Alemão.

Freixo, no entanto, ressalta que há pontos positivos nas pacificações, mas que o Estado as vê pela lógica do tráfico, e não pela de políticas públicas essenciais, como, por exemplo, moradia.

- Claro que é importante não ter tiroteio na porta do trabalhador. Mas quem garante que daqui a dez anos os moradores da Babilônia estejam lá ainda? Se não houver uma política pública visando à manutenção dessas pessoas que construíram a comunidade, elas serão expulsas dali. Isso precisa ser debatido.

Edna Lúcia, moradora da comunidade Vila Ipiranga, em Niterói, compartilha a opinião de Freixo sobre a omissão do Estado em serviços básicos e teme uma possível pacificação onde mora, por entender que a disparidade entre o asfalto e o morro é gritante.
Edna, discorrendo em meio aos olhares da bancada
- A gente (da favela) paga luz, paga água só que ela cai uma vez por semana e querem que a gente pague igual a vocês (do asfalto)? A luz vem, desce, e querem que a gente pague igual a vocês? - disparou. A favela está descendo não só para trabalhar na casinha de vocês, não. Nós estamos descendo para vir para o meio de vocês e dizer que nós estamos de olho. Remoção branca,  não - arrematou, ovacionada pelo abarrotado Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFF, local do evento.

Freixo ainda apontou para o que acredita ser a sua maior preocupação sobre as UPPs.

-  O que me preocupa mais é a possibilidade de investimento privado na segurança pública. Isso eu acho temerário, gravíssimo e sou radicalmente contra. Segurança pública é uma questão de Estado. Segurança pública não pode atender a interesses privados, mesmo que supostamente envolvidos por uma intenção cristã de um Eike Batista. Interesses privados não são feitos para defender interesses públicos - concluiu.

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